segunda-feira, 23 de março de 2009

(re)Forma da Estupidez

Com a reforma ortográfica da língua portuguesa batendo em nossa cara, seja pelos telejornais com seus especiais ou em programas de debate sobre o tema, tenho ouvido de tudo, e lido, de tudo. Não estou me referindo aos inúmeros pensamentos e posicionamentos a respeito da relevância ou não do caso e, sim, às regras que juram que entraram em vigor esse ano. Uma delas se refere ao “de repente” que alguns dizem que será escrito junto: “derrepente".Eu sei, isso já acontece em inúmeros textos dos alunos desavisados que chegam a abrir a boca de espanto quando descobrem que se trata de dois vocábulos e não só de um. Mas, infelizmente para alguns, os professores de português continuarão a corrigi-los.Também tenho lido alguns textos de pessoas que se consideram na vanguarda dos acontecimentos e simplesmente arrancaram todos os acentos de todas as palavras. Até os pássaros perderam as asas. Passaros, talvez, sejam mais leves sem acento. Se for em uma escrita intencional, vá lá. O que não dá é para escrever esses absurdos a fim de tentar demonstrar a internalização de novas regras pra lá de complicadas.Ler sobre as novas regras (só ortográficas hein, na questão fonética fica tudo igualito) até parece fácil. Baixar os manuais, já disponíveis na internet, sobre o assunto, é tranquilo, mas passar a usar a nova ortografia como se já dominasse todas as regras para a escrita sair na maior fluidez, pelamor de Deus!Ando estudando as benditas há quase meio ano e não consigo entender o tal uso dos hífens. Tirar os acentos, o trema, pensando um pouco até que vai. Mas os hífens, que já eram chatinhos, agora ficaram complicadíssimos.Aqui, nem questiono o porquê dessas mudanças. Creio que as opiniões são diversas mesmo. Faz parte de toda mudança causar polêmica. Falar a respeito em tom apaixonado, defendendo cada ponto da reforma, deixo para aqueles que a idealizaram. Não sou contra, como uma militante de esquerda. O que condeno e denuncio é a tentativa de alguns de se sobrepujarem a outros, mais uma vez, com o domínio do conhecimento de forma mais fácil oferecida àqueles que estão em contato com a escola, com a academia, com a informação.Sinceramente, não é o trema ou a falta deste que me dirá o que pode um ser humano através de suas ideias. E, sim, sua força, suas palavras e sua prática. Contra isso não há regra capaz de tolher um espírito louco de vontade de ser acima do parecer e do ter.
Infelizmente, ficaremos por aí dando encontrões na estupidez de alguns que creem ser possível reformar o preconceito em outro mais atualizado. Diremos a esses pobres para ficarem sem seus tremas, sem seus acentos nas paroxítonas terminadas em ditongos abertos, para brigarem com o hífem. Embora eu precise me adptar, como professora de língua portuguesa, jamais permitirei que um ser humano deixe de se dizer por não se adaptar às regras, sejam quais forem. O que não dá mesmo para tolerar é a tentativa de depredação da auto-estima, da inovação da vontade, da busca pela felicidade. Isso, sim, é inaceitável em qualquer prova de vida.

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Fonte: Blog da Ane de Mira.
*Uma professora adorável que entende o aluno como pessoa e não como aluno.*

2 comentários:

artemanha disse...

olá, amiga, passei para deixar um abração...e amei esse texto! beijos...
isa

urmystars.blogspot.pt disse...

Vamos falar e escrever como deve ser. Quem teve a ideia do acordo devia estar com muitos problemas de escrita correcta e falta de interpretação na leitura. É com assentos, é com assentos! Ou as palavras passarão todas a assemelhar-se umas às outras e, se agora há quem não as entenda no seu verdadeiro sentido, pior irá ser depois. Só falta anularem os sinais gráficos... mas aí era tentar ser José Saramago e aos calcanhares dele não chegam. Beijinhos. Maria João


Teatro de Páscoa

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